Agora sim...

Tenho tantas saudades… Muitas, tantas, imensas… Saudades dos momentos em que faziamos tudo, dos momentos em que não faziamos nada… De ir para a escola a pé e encontrar o Gongas, a Elca, o Josué ou a Vânia… Iamos na conversa sempre que assim era… Os temas eram os que viessem á conversa no momento… Quando chegávamos á capela o assunto era sempre o mendigo bebado, que posso dizer que até do “plim plim plim” do anel dele a bater na garrafa do vinho… Era um “plim plim plim” sempre diferente, a garrafa estava sempre de uma diferente forma… Tenho saudades do “Bom dia, boas aulas” do rapaz negro de cadeira de rodas na rua estreita… Do caminho, de cada pedaço dele eu tenho saudades, de cada pedra da calçada que pisamos… Saudades das visitas de estudo, de cada segundo passado convosco, na paragem, na escola, no portão, naquele muro, nos bancos, no poly, nos matraquilhos, no campo, nas salas de aulas, nos autocarros, nos comboios, nos cafés… Em todos os lugares que passamos e deixamos sempre um pouco de nós… Da nossa alegria, das nossas gargalhadas e boa disposição, dos sorrisos contagiantes… Das conversas, das musicas… Como era bom cantar no comboio convosco… Atrofiar uns com os outros… Passei tão bons momentos nos ultimos dois anos naquela escola, aprendi tanta coisa… Conheci tanta gente… Como eu adorava o inicio de ano, em que recebíamos os novos colegas, e em que nos abraçávamos para matar as saudades, fazia-mos todos os nossos cumprimentos… Eram beijos e mais beijos, abraços, palavras… As festas de despedida, a música, as “storas”, os nossos projectos todos concretizados com alto sucesso… A nossa satisfação por tal coisa e tantos elogios… Tenho saudades… Porque não abracei, não beijei, não revi caras nem amigos no primeiro dia de aulas… Tenho saudades porque aquele não era o meu mundo, aquelas não eram as minhas pessoas… Aquele corredores, repletos de gente sentada no chão, e com as paredes cobertas de trabalhos artísticos, não eram aqueles com os placares de cortiça, as escadas, não eram aquelas em que eu gritava para a Marta porque queria falar com ela… Aquele não era o pavilhão, rectangular, que eu tanto gostava… Mas agora… Terá que ser… Porque já gosto da gente, porque já me habituei ao clima, porque já adoro sentar-me no chão do enorme corredor, e ficar a ouvir as anedotas secas, do meninos dos olhos azuis e da Filipa… Já gosto, de almoçar a “baguete” de frango no café da frente e rir para a mesa do canto para a Karine porque simplesmente… Dá graça… Agora… Eu gosto… Mas nada deixa de me fazer muita falta…