Por entre gritos, na chegada, “É a xónia, xóniaaaaaa!”, saindo da carrinha e já o oiço, em segundos está ele, na minha frente, pequenino, cabelo preto, olhar meiguinho, pronto para aquele abraço e aquele nosso cumprimento, hoje com o irmão que veio depois de ele, olho-o e como estava na rua, estava todo sujo, alias estavam, andavam aos saltos no chão, olho o Ângelo, meu “afilhado”, uma ferida no canto do olho, não era pequena não, e estava feia, apesar de mais novo que o Gonçalo, fala muito bem, mas é mais caladinho, e pode-se dizer que por vezes mais sossegado, o Gonçalo é mais dado, e modéstia á parte, adora-me, assim como eu também adoro aquele miúdo, e ao irmão… Bem mas lá veio ele e estica a mão, partiu-me o coração quando não lhe apertei a mão, mas lá peguei nela e disse-lhe “Oh meu porquinho, olha para isto, viraram mecânicos? Vá lavar as mãozitas…” E lá foi ele todo feliz lavar as mãos mas antes “olha olha fiz dói dói!” tinha a testa rachada, um enorme galo e estava negro… O irmão estava ao pé de mim antes de ir para o quintal e disse “Olha tenho um totó pareço uma menina…”, ele tem um cabelo pelos ombros com caracóis, e a minha avó que toma conta deles fez-lhe um carrapito na cabeça… Entretanto o irmão lavou as mãos e voltou, eu estava ali á espera dele, passou a estrada a correr e pronto para me dar mais uma vez o nosso cumprimento, fomos para o quintal, onde lá estava o mano dele, olhei aqueles dois miúdos, o Gonçalo andava a dar cambalhotas no colchão, ia a correr e dava uma cambalhota, eu sustive a respiração por cada vez que ele dava a cambalhota pois estava mesmo a ver, que se ia magoar no pé, e pronto, dizia-me “Ai dói”, mas continuava a fazer o mesmo… O irmão estava sentado em frente a um pequeno banco que fazia de mesa, e tinha uns talheres de plástico, de brincar, e uns pratos e estava a fingir que comia enquanto olhava para mim disfarçadamente, tinha um olhar tão meigo… Perguntei-me nesse momento o porquê, de eles estarem naquele estado… Sujos, magoados, e se não fosse a pessoa que toma conta deles, bem ou mal mas toma conta deles e sempre os alimenta, como seria, se não fosse ela? Onde andariam estes miúdos? Andariam com o irmão mais velho que eles que com uns 7 ou 8 anos e já anda com os bandidos do bairro? Desde pequenos habituados a maus hábitos? Porquê? Para que têm filhos se não os querem criar? É o prazer de abrir as pernas entrar uma coisa e depois uns nove meses depois sair outra? Será? Será que está gente tem alguma noção de o que é ser MÃE ou PAI? Como é? Têm uns 5 ou 6 filhos, depois, fazem as suas vidinhas de dia… Trabalha-se? Uns biscates… E de noite? Sai-se… E os filhos? Que comam, que troquem as fraldas, que vão para a escola se querem e as meninas que tomem conta dos mais novos… Mas afinal, é assim que se tenciona subir a taxa de natalidade do nosso país? Tendo filhos e deixando-os serem criados pelo ar… Porque a mãe precisa de roupas logo o dinheiro dos meninos é o único disponível não? Revolta-me profundamente, olhar aqueles sorrisos e pensar que, se um dia até crescerem e serem uns meninos que pensem por si não tratarem deles serão mais uns desses bandidos que andam por ai e numa rixa de bairros… Vão… Espero que estes meus dois anjinhos, sejam uns bons meninos e façam por si no futuro… E que as meninas que andam ai a ter filhos que nem ninhadas de coelhas, que parem, e que pensem que estão a deitar ao mundo seres humanos, e afinal, não coelhos…