(Re)Encontro

      São 16horas! Certas, sem mais nem menos um minuto. Corro porta fora após pegar na mala, chaves do carro e telemóvel. Não vou certificar-me que nada me falta, porque o mais importante, a minha presença, apresso-me por não faltar! Fecho a porta e sigo em direcção á porta do elevador. Felizmente é rápido e já cá em baixo corro para o carro. Meto-me a caminho, já lá devia estar. Os cinco minutos que me separam da praia, local de encontro vão fazer diferença. Não gosto de a fazer esperar e isso deixa-me ainda mais nervosa. Não nos vemos há tanto tempo e perder já estes pequenos inícios do nosso momento de reencontro… Sinto-me a sufocar! Vou perdida em mil pensamentos e lembranças.
        Estaciono o carro perto do café, aquele em que passámos horas intermináveis a conversar sobre tudo. Ainda não estás lá, para surpresa das surpresas. Olho bastante intrigada, não és de te atrasar, mas, passou tanto tempo… Saio do carro, quero confirmar. Respiro fundo, não… Não estás. Vou sentar-me na nossa mesa e peço um copo de água por agora. Sinto que a minha boca mais parece um deserto. 

      Fecho os olhos e inspiro. Expiro suavemente enquanto os volto a abrir para ver o mar. Cheira a maresia, como os nossos cabelos após longas tardes de mergulhos no mar. Aquele cheiro que ficava até ao Outono em nós. Depois vinha o cheiro da terra molhada com os passeios pela mata. Já passaram 15 minutos. O céu começa a tonificar-se com o final da tarde mas a linha de horizonte ainda se dissolve com o azul do céu. Como se não houvesse separação. Assim como em nós que sempre aparentamos ser inseparáveis fisicamente (porque te tenho e tive sempre no coração) a vida tratou de nos colocar o horizonte no meio. 
      Um suave toque no ombro interrompe-me o pensamento. Avanças para a minha frente, eu levanto-me de imediato e abraçamo-nos. Já sinto o suave aroma ás tuas pastilhas de mentol. Algo que nunca deixaste noto. Sentir o calor do teu abraço faz com que os meus olhos se encham da água salgada do mar, talvez toda aquela que engolia por entre as nossas brincadeiras nele. Não escondes que também choras. Olhamo-nos nos olhos, mas ainda não foi suficiente. Voltamos a abraçar-nos por todo este tempo. Por todos os momentos em que choramos sozinhas no escuro e não podemos abraçar-nos desta forma.

      Sentamo-nos e pedes dois chás de menta. Enquanto por entre o inspirar do fumo alcatroado de um cigarro e tragos pequenos no chá cujo aroma a mentol nos envolvia e confortava. Ficámos a conversar até o sol se querer  esconder.

      Decidimos ir passear na praia. Como naquela vez em que estavas de coração destroçado e querias fugir de casa. Fugi contigo para ali, e passeamos até ao amanhecer. Paramos a olhar o céu, uma janela de cores. O sol reflectido no mar, grandioso. A imagem arrasta-se até a areia molhada que pisamos. As réstias de água fazem de espelho ás nuvens que se embelezam de mil tons. Beijamos as nuvens com os pés descalços e continuamos, deixando na sua imagem espelhada a nossa marca.

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