Foi no inicio ou fim do Inverno, não me recordo bem. Sei que estava frio, eu levava o meu cachecol castanho e cor de laranja que dava sempre para as duas. Depois de um dia maravilhoso, quase perfeito. Daqueles em que cada segundo é a peça perfeita de um puzzle que nos acompanhará para sempre. Entre gargalhadas, a paixão que transpirava de vocês e que eu pude retratar, que se lia nos vossos olhos. Chegámos a ser o trio mais divertido que andava por aquelas ruas. Os nossos olhos brilharam tanto quanto as luzes ao fundo com o chegar mais cedo da noite. Mais gargalhadas e ficaste em baixo da água gelada, culpa dele. Só me consegui rir com o nervosismo do pobre rapaz, e a tua fúria. Ver-vos era como assistir a uma peça improvisada de amores proibidos mas tão desejados. Parecia tudo tão real (e era) e perfeito visto da primeira fila. Eu sempre fui capaz de ver nos teus olhos, nas tuas expressões aquilo que me querias dizer, que sentias. E por isso, quando no meio da noite já cerrada se ergueram os pequenos jactos de água nos jardins que contemplávamos enquanto caminhávamos pelo passeio, paramos, estáticas, olhamo-nos uns cinco segundos. Rasgou-se um sorriso, daqueles que já vêm da nossa inocência… Tiramos os cachecóis, os casacos, lançamos tudo para os braços dele e corremos em direcção ao jardim… Gritámos entre gargalhadas enquanto aquelas gotas nos limpavam a alma. Corremos como duas crianças na relva molhada pelos jactos de água até nos cansarmos.
Guardo de ti, a lembrança de momentos únicos, da cumplicidade desde que nos lembramos. Mas também guardo de ti, a última vez que li nos teus olhos uma tristeza absoluta, uma névoa sobre ti e mais não consegui ler, porque os teus olhos postos no chão não deixaram. Se um dia achei que eras mais rebelde, que eras mais arisca, que não te prendias a ninguém dessa forma… O contrário está escrito. Essa não és tu, precisas de viver e de espaço para respirar. Volta a ti.

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