Pairam sobre as mesmas ruas que todos nós, são para a sociedade hipócrita em que estamos inseridos, pragas, mas ninguém é capaz de tentar mudar isso. Dia após dia deixam-nos de fora como se fossem estranhos no planeta, mas na realidade, são também ambos seres vivos e bastante idênticos na forma como vivem. São estes, os sem-abrigo e os pombos. Se repararmos bem, na cidade de Lisboa, temos imensos pombos, assim como sem-abrigo, e o que são ambos, se não uns rejeitados pela sociedade? Já os sem-abrigo são proibidos de se abrigar da chuva em baixo dos parapeitos, das varandas, como também os pombos, já não podem poisar sobre os mesmos parapeitos porque já têm “protecções” contra estes. Temos imensas qualidades idênticas em ambos, se focalizar-mos a imagem de um sem-abrigo na nossa mente e de um pombo, reparamos que a liberdade de ambos é separada pelas asas que o homem ainda não tem. Porque de resto, livres de tudo são ambos. Vagueiam por todos os cantos da cidade.
A forma como se alimentam, também é parecida. Comem os restos deixados num qualquer chão ou caixote do lixo. É uma realidade cruel, a forma como nós comemos, tudo limpo, e quando caí algo no chão, por uma questão de higiene ou não comemos ou vamos lavar, eles não, eles não se importam se a comida está suja, ou já alguém lhe tocou, a fome é imensa, e por isso há que a saciar de qualquer maneira, por isso tantas vezes vemos nas nossas imensas ruas, gente a tirar do lixo e a comer, aquilo que para nós não presta, enquanto que os pombos, comem as migalhas que deixamos cair, pedacinhos que se vão espalhando por aqui e ali, e por uma ou outra vez, têm banquetes porque os turistas gostam de os ter por perto, e os alimentam, ou alguma pessoa que está sentada num jardim divide o seu lanche. Temos também muitas vezes o companheirismo dos sem-abrigo, que mesmo já sendo pouco para eles, não têm qualquer preceito contra alimentar e manter bem perto estes seres com tantos direitos como nós.
É de facto uma forma bruta, comparar um humano com um animal, mas que somos nós se não animais? Racionais, mas somos mesmo animais. Até porque a dignidade, lealdade e muitas mais qualidades que são supostas de seres humanos, são mais possuídas pelos animais.
Ambos têm o mesmo poiso, nos jardins é onde se sentem mais seguros, talvez pelo contacto com a natureza, talvez porque ali, ainda se sentem mais livres, mas deveriam ter o direito a ter um lar digno de condições mínimas para sobrevivência, coisa que as nossas ruas de hoje não têm.
Porque se nós tomamos banhos numa banheira enorme cheia de água, e antes os pombos aproveitavam os chafarizes, hoje eles tomam banho em poças de lama criadas pela chuva e pelo homem. Assim como os sem-abrigo só tomam banho em certas instituições, e é talvez, uma coisa que fazem de tempos a tempos, enquanto que nós, gastamos todos os dias litros de água num só banho. Assim como nós temos direitos, também deveríamos dar o direito a estes dois seres, tão diferentes, e tão idênticos.
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