Amor II

Sonhávamo-nos. Mas talvez a intensidade do nosso gostar, ou a imensidão do desejo de nos tocarmos… Tornou realidade a felicidade até aqui utópica. Acordei ao teu lado. Apreciei-te, contemplei-te, alimentei-me da tua imagem como se não soubesse já de cor os teus traços perfeitos. Passei a mão muito levemente pelo teu rosto, desviei-te o cabelo da testa e num beijo leve levantei-me. Fui ver á janela, como estava o sol d’hoje. Para confirmar o paraíso que descrevias até aqui. Para poder respirar o ar que sei que respiras todos os dias. E sim, lá estava a mais bela das imagens, um nascer do sol dourado e mil tons diferentes de cor-de-laranja desvanecendo nos baços tons lilás. Umas suaves nuvens que poderiam ser pálidas, gélidas de cor, mas são apenas bolas de algodão doce. Volto-me e fico a olhar-te mais uma vez. O teu ar sereno exibe o anjo que há em ti. Volto a deitar-me de frente para ti, sobre o meu lado esquerdo, seguro a tua mãos e num encaixe perfeito os nossos dedos entrelaçam. Não fecho os olhos com medo de voltar para lá, com medo de sair de perto de ti. Inalo todo o teu aroma… Volto a contornar-te o rosto, tocando de leve com o dedo indicador na tua testa, e descendo suavemente pelo nariz e os teus lábios. Vou esperar que acordes. Quero abraçar-te e beijar-te, antes que o sonho nos leve de volta.
Acordaste, de um sono profundo…Vi-te abrir aos poucos os olhos, enquanto na tua boca se formava um sorriso doce. Não havia espanto, como se o sonho tivesse sido introdução ao momento, como se a realidade ali existente fosse já prosa poética que vivemos diariamente. Seguraste-me a mão firmemente. Abriste os olhos ainda pequeninos. Aproximei o meu rosto do teu e beijei-te a testa enquanto fui descendo em beijos suaves, roçando a minha boca e inalando o teu aroma natural. Fechámos os olhos enquanto senti a tua respiração sobre os meus lábios. Senti-lhes a textura, a pequena brisa que saia por entre eles. Numa dança serena os meus lábios decoraram os teus. Estudei-os enquanto os nossos narizes se tocavam. Desvio-te o cabelo que te cobre o rosto e ponho a minha mão sobre ele, abrimos suavemente as nossas bocas, e num aproximar ainda mais deleitoso senti o calor que brotava da tua língua. Degustamo-nos. Bebemo-nos em módicos tragos.
Abraçámo-nos.
Beijei-te os ombros nus enquanto lentamente te foste aconchegando com as costas voltadas para cima. Deixei escorregar pelas tuas costas, como que explorando, a ponta dos meus dedos. Conseguindo arrepiar-te a ti e a mim. Depois de as ter explorado, fui reconhecer com os meus lábios, em beijos meigos e formando linhas de calor com a língua. Desenho-te assim, um desenho que só tu sentes e só eu vejo. Percorro todas as tuas costas apreciando o teu sabor. Volto a beijar-te o ombro, o braço. Exploro o teu corpo, como se o quisesse gravar em mim. Pinto-te em beijos e o percorrer do teu corpo com a minha saliva. És a minha tela.

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