Louca!

Morri ali, quando a música começou. Sobre os panos vermelhos de uma paixão oculta, sobre as cinzas de todas as cartas que queimei. Sobre as gotas que brotavam dos meus olhos. Eu morri. Deixei-me ir para sempre, com a melodia que me assombrava em qualquer local. A melodia que estava entranhada nos meus ouvidos, que tentei arrancar com todas as minhas forças. Ela puxava-me e repetia o teu nome vezes sem conta, a cada batida do tambor, soava um eco do teu nome, que me levou à loucura. Queimei cada fotografia tua, rasguei os teus trapos, e lancei ao vento o teu perfume, que acabou por deixar um rasto sobre as ruas onde passava. Fiquei louca. E morri, sobre os panos onde dormíamos. Onde fazíamos amor, onde juraste um amor eterno. Enlouqueci sem a tua presença. Destruída no teu cheiro, acabada sobre as cinzas de cada palavra queimada que me ofereceste. Eu ali fiquei, na tão temida solidão de afectos, na ancia de te ver chegar, pegando-me suavemente, e beijando-me os lábios uma última vez que duraria a imensidão do tempo que me restava. Eu ardia por dentro. A cada inspirar, uma memória tua eu via nos meus olhos, que me aceleravam os sentidos. Dependente de ti como da heroína, deixei-me morrer nos panos vermelhos da nossa paixão inexistente. Sou louca! E tu só exististes na minha loucura.
( S.A. Ou começas a acreditar que poucos são os "diferentes" ou bem te lixas!)

Tu.

Olho a tua fotografia na esperança de me lembrar claramente de cada traço do teu rosto. Da exacta cor dos teus olhos, da tua boca quando sorris. Tento, e volto a tentar. Mas não consigo, e culpo-me por isso, por não ser capaz de desenhar sobre a minha mente, cada expressão tua. Sei de cor as tuas palavras, as tuas ideias, alguns dos teus medos e paixões. Sei-te descrever o teu abraço e o toque suave da tua mão no meu cabelo. A doçura com que entravam as tuas palavras directamente no meu coração (“minha menina”) e o deixavam numa paz inexplicável. O primeiro abraço, que me parou no tempo, consigo lembrar-me do tempo que estava, que eu tinha acabado de te dizer que estava frio, enquanto subia a rua. Vi-te, nos nossos rostos o sorriso, e tu abraçaste-me mesmo á porta da loja. Largaste-me e olhaste-me com um sorriso. Puxaste-me para dentro da loja e lembro-me no tom de brincadeira que disseste “aqui dentro já não está frio”. Pareceram segundos os momentos ali contigo, a ouvir-te falar. Quero lembrar-me! Do teu rosto como se aqui estivesses, á minha frente! Mas não consigo... Apenas ligeiras características me vêm á mente. E a enorme vontade de te abraçar, vem junto com elas. Tenho saudades tuas!